
A BORBOLETA-CAVEIRA: UM DOS MAIS ESPECTACULARES ANIMAIS DA NATUREZA
A natureza não pára de nos surpreender e está cheia de formas de vida absolutamente incríveis e maravilhosas. Outras são tão inesperadas quanto peculiares, como é o caso da borboleta-caveira. Esta, como o próprio nome indica, é um insecto da família das borboletas, que para além de ser uma das maiores e mais pesadas da sua espécie, tem ainda a particularidade de apresentar na zona do tórax um desenho em tudo semelhante ao de uma caveira.
Esta espécie de borboleta é migratória e viaja entre África, de onde é originária, e a Europa, em busca de climas quentes e com muito sol. A sua lagarta é verde e, depois, amarela, com riscas azuis, e quem a vê não adivinha que, mais tarde, irá dar origem a uma borboleta com uma caveira desenhada no dorso. Contudo, não se pense que estas são necrófogas ou algo do género. Afinal de contas, a representação e o significado da caveira é apenas uma criação humana.
A borboleta-caveira já teve também o seu momento de fama na cultura popular. Em 1991, o popular filme “The Silence of the Lambs”, realizado por Jonathan Demme, tornou-se numa das obras mais populares de toda a sétima arte. Mas o seu cartaz tornou-se igualmente icónico, sendo identificável quase por toda a gente ainda hoje, passados 30 anos sobre o lançamento do filme. Nesse cartaz pode ser Jodie Foster, de frente, com uma borboleta-caveira pousada sobre a sua boca.
Mas há outra particularidade nesse cartaz, que acaba por se cruzar com um outro episódio memorável da cultura popular. É que “The Silence of the Lambs” utiliza como desenho no tórax da borboleta a caveira que Salvador Dalí imortalizou com sete mulheres. Nuas e dispostas em posições com tanto de sexual quanto de estimulante, as mulheres formam com os seus corpos uma caveira, que vemos facilmente através de uma espécie de ilusão de óptica.
A história e o significado da caveira é praticamente transversal a todas as civilizações e cultura do mundo, estando intimamente ligada a uma ideia de morte e de finitude. Além disso, tem também um significado de efemeridade, que serve para nos lembrar regularmente de como a vida é curta. E, finalmente, é também um símbolo de sabedoria, exaltação e domínio, ou não fosse o crânio o topo do corpo humano.
Por isso, não deixa de ser curioso verificar que a natureza criou um animal como a borboleta-caveira, em que um insecto deste género surge com uma caveira desenhada no próprio corpo. É que a borboleta é, ela própria, um símbolo da felicidade, da beleza e da alma, mas também da natureza, na renovação e, claro, da temporalidade da vida. De acordo com o ideário cristão, esta ideia está ainda relacionada com a vida, morte e ressurreição espiritual.
Na civilização grega, em que borboleta se diz psyche, esta era uma deusa representada por uma mulher com asas de borboleta, sendo tida como a mais elevada personificação da alma humana. Também no Japão, a borboleta é o símbolo da figura feminina. E para os turcos e outra povos da zona, a borboleta é a forma que os seus entes queridos falecidos podem adquirir durante a noite.
O nome técnico e oficial da borboleta-caveira é Acherontia Atropos e pode ser também commumente chamada de “caveira esfínge”. Podem alcançar uma envergadura (ou seja, a distância entre as extremidades das suas asas) de cerca de 130 milímetros, o que faz dela uma das maiores - e mais pesadas - espécies de borboletas em todo o mundo. Vive sobretudo na zona do Médio Oriente, no norte de África e na zona do Mediterrâneo em geral, incluindo nas ilhas dos Açores e das Canárias, em Portugal e Espanha respectivamente.
Apesar de estarem conectadas à morte e à catástrofe, as borboletas-caveira são completamente inofensivas. Isso não quer dizer que possam dar bons animais de estimação, se bem que no filme “The Silence of the Lambs” vemos o assassino da história a criar em casa este tipo de insectos. No entanto, essa é apenas resultado da liberdade criativa do autor do argumento, tendo em conta esse potencial icónico do animal.
Actualmente, a caveira estabeleceu-se junto da cultura popular como um elemento icónico, que caminhou das margens para o centro. Isto significa que, hoje em dia, é extremamente comum encontrar roupas estampadas com este motivo, brinquedos e outros objectos. Damien Hirst, provavelmente o mais importante artista contemporâneo, esculpiu um crânio humano com diamantes, que se tornou na obra de arte mais cara de sempre vendida por um artista ainda vivo. “For the love of God”, o nome dessa peça, transformava definitivamente a caveira na forma como era vista pelo grande público, inserindo-a definitivamente nos hábitos de consumo de milhões de pessoas espalhadas pelos quatro cantos do globo.