
A CAVEIRA E A ARTE CONTEMPORÂNEA
Em 2018, o filme “Coco”, da Disney, arrecadava para casa o Oscar para a Melhor Animação, o mais importante prémio cinematográfico do género, num filme dedicado ao Dia dos Mortos, no México. Era a consagração das caveiras, dos esqueletos e, enfim, da celebração da vida e da morte, completamente legitimada na cultura popular desde a mudança do século.
Esta não é uma tendência recente. Se olharmos para o cinema encontramos outros exemplos anteriores, como o também filme de animação “O Estranho Mundo de Jack”. Contudo, o boom da caveira na cultura popular nunca foi tão forte como agora, transbordando das margens para o centro, da arte contemporânea ao cinema, da moda à decoração.
A caveira sempre foi um símbolo da morte e uma metáfora à fatalidade do Homem, associado a toda uma simbologia negra e de sombras. Não é que, actualmente, esse significado tenha desaparecido, mas com a apropriação popular a caveira viu essa associação macabra desvanecer-se. É como se, actualmente, mais do que alegoria da fatalidade, o crânio representasse uma celebração da vida e o total despeito pela morte.
A CAVEIRA E A ARTE
A caveira sempre esteve presente na arte desde sempre. É certo que, normalmente, se recua ao Barroco para a introdução das caveiras e dos esqueletos na arte, especialmente devido à reforma protestante, que utilizou esta iconografia para a reflexão sobre a fatalidade da vida. Caravaggio, o famoso pintor italiano, tornou-se num dos mais populares a retratar este, mas o século XV foi pródigo em representações de santos penitentes de crânios nas mãos ou em esqueletos pintados nas costas dos retratos de defuntos.
No entanto, se olharmos para trás, vemos que essa simbologia em redor da caveira não era novo. Na exposição dedicada ao tema da caveira que, em 2010, esteve no Museu Maillol, em Paris - intitulada “C’est La Vie!” - a peça mais antiga era um pequeno azulejo de Pompeia (ou seja, pré-império Romano) pintado com uma caveira, a roda da fortuna e um esquadro. Ou seja, o equivalente da altura ao mote “carpe diem” ou “momento mori”.
Mas foi com Andy Warhol, o pai da pop art, que a caveira seria apropriada definitivamente pela cultura popular, tornando-se num dos símbolos da arte contemporânea. Aliás, o principal ícone da arte do século XXI é a “Diamond Skull”, o crânio que Damian Hirst cravejou de diamantes em 2007 e que continua a ser a obra de arte mais cara de um artista vivo. Mas os exemplos não se ficam por aqui. Subodh Gupta, outro dos principais nomes da arte contemporânea da actualidade, apresentou em 2009 “CB 1”, um crânio de proporções gigante emoldurado por um trem de cozinha em inox.
DO CINEMA À MODA
Actualmente, a caveira está presente em todas as manifestações artísticas. No início deste texto falámos de “Coco”, o filme de animação que apaixonou o mundo da sétima arte em 2018, sobre o Dia dos Mortos, no México, utilizado como metáfora para o amor eterno. Contudo, não é só no cinema que encontramos este boom.
Também na moda, no vestuário e nos acessórios, este símbolo se tornou numa tendência do momento, trazendo novas simbologias à caveira. Depois de ter sido um símbolo de rebeldia entre as subculturas urbanas do final do século passado, dos góticos aos punks, passando pelos motards, a caveira popularizou-se na moda, especialmente graças ao designer de moda Alexander McQueen.
O estilista inglês trouxe a caveira para o mainstream e, rapidamente, outros o seguiram, como o brasileiro Alexandre Herchcovitch. Por isso, hoje em dia, quando celebridades como Johnny Depp ou Keith Richards, dos Rolling Stones, posam com os seus anéis de caveira, isso já não é tanto um statement pessoal, mas antes uma manifestação de estilo.
Para saberes qual é o teu estilo podes consultar o artigo porque é que deves usar uma joia caveira? ou 5 razões para usar um anel de caveira.
AS CAVEIRAS NAS TATUAGENS
Também nas tatuagens a caveira se tornou num dos motivos mais procurados em todo o mundo. Durante muitos anos foi quase um exclusivo de determinadas subculturas, como símbolo de rebeldia (os punks), de liberdade (os motards) ou mesmo como manifestação artística (como na música gótica ou no heavy metal), mas actualmente disseminou-se com várias ramificações. E uma das principais tendências é mesmo a calavera, a famosa caveira mexicana.
Esta caveira distingue-se pelo traço estilizado e, sobretudo, pelas cores fortes e o decorativismo, especialmente com flores ou animais. Este símbolo do Dia dos Mortos, a maior festividade mexicana, é muito usada por pessoas que querem recordar e eternizar um ente querido que faleceu, já que são um símbolo da celebração da morte.
Também a caveira em art deco se tem tornado muito popular entre as tatuagens do género. Afinal de contas, este é um estilo gráfico decorativista por definição, o que significa que é perfeito para uma tatuagem: estilizado, minimalista qb e muito cool. De repente, as caveiras tornaram-se quase no centro do mundo artístico e da moda. Não perderam o seu significado nem foram redefinidas, apenas o alcance da sua dimensão foi expandido. Por isso, mais do que um triunfo da morte, é o triunfo da vida (e da arte) sobre a morte.